domingo, 28 de dezembro de 2008

Não, minha vida não está entrando nos eixos, e não, de maneira alguma, 2009 NÃO vai mudar tudo.

sábado, 27 de dezembro de 2008

Parati Para Mim


"Essa cidade morreu. A gente de fora, a gente veio e transformou tudo num shopping. Museu aberto e shopping. Quando eu cheguei aqui as pessoas abriam as portas de casa, botavam as mesas pra fora. Viviam as suas vidas sem essa humilhação. Hoje, foram expulsas pela grana. Viraram garçons, atendentes, vendem merda pra gringo comer, artesanato pra gringo levar. Os turistas engordando e cagando a cidade. As casas pintadas agora, mas perderam a alma. Sempre a porra da grana fodendo com tudo"

sexta-feira, 26 de dezembro de 2008

Noite De Natal

Vinha-lhe uma dor fina, muito similar ao rancor - isto se não fosse o próprio -, que lhe despertava dúvida em relação à possibilidade de existir ainda alguma bondade neste mundo, nem que fosse mínima. Via-o - o mundo - como uma fruta que já passara de sua maturidade há algum tempo, como uma fruta podre. A podridão imperava.
Perguntava-se se valia a pena ser boa com um mundo que a tinha maltratado tantas vezes. Durante todo um ano, apanhara. Como se houvesse alguma força superior insistindo em pôr seu punho contra ela, fazendo-a sentir na pele as mais diversas dores, os mais diferenciados incômodos.
Questionava-se: algum dia isso havia de passar?
Deitada numa cama imensa, trancada num quarto escuro, ouvindo os ruídos de um ventilador velho e empurrando goela abaixo a cerveja já quente, ela desmoronava. Chorava, mas não sentia pena de si mesma. Apenas raiva. Raiva de tudo. Do mundo, do Deus, dos humanos.
Desabava sobre si mesma, e apesar de mundana, aquela raiva que sentia a alimentava.
Sentiu-se sem vida por uns instantes, mas era apenas sono. Adormeceu.

quarta-feira, 24 de dezembro de 2008

"Dissestes que se tua voz tivesse força igual à imensa dor que sentes, teu grito acordaria não só a tua casa, mas a vizinhança inteira"

segunda-feira, 22 de dezembro de 2008

I Used To

"He was the ocean
And I was the sand

He stole my heart
Like a thief in the night

Dulled my senses
And blurred my sight

And I used to love him...
But now I don't
I used to
Love him
Now I don't.

I chose the road
Of passion and pain

Sacrificed too much,
And waited in vain...

I used to
Love him
But now, I don't"

quinta-feira, 18 de dezembro de 2008

"Fora então que Ulisses aparecera casualmente na sua vida. Ele, que se interessara por Lóri apenas pelo desejo, parecia agora ver como ela era inalcançável. E mais: não só inalcançável por ele mas por ela própria e pelo mundo. Ela vivia de um estreitamento no peito: a vida"

quarta-feira, 17 de dezembro de 2008

Sempre

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"Eu sei que vou chorar
A cada ausência tua, vou chorar
E a cada volta tua, apagar
O que essa tua ausência me causou

Eu sei que vou sofrer
A eterna desventura de viver
Na espera de viver ao lado teu
Por toda a minha vida"

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Por Toda A Minha Vida

E aos poucos você vai sumindo, assim como teu cheiro, tuas lembranças, tua pele, tua roupa, tua voz, tua risada; não mais daqui a algum tempo hei de lembrar de tuas piadas nem dos detalhes de todos aqueles momentos bons, nem do cheiro do teu sexo, nem do jeito que me olhava sempre que nos víamos, nem do jeito que me chamava, que me acariciava
Hei de esquecer, aos poucos, como numa tortura dolorosa, todos os apelidos carinhosos que me dera, hei de esquecer o jeito que nossas mãos se tocavam, o jeito que nossos olhares se encontravam
Você devagar há de sumir, há de sumir, provavelmente não voltará; se Deus quiser, não voltará, todas as lembraças ficarão no passado, que é o lugar onde devem permanecer, o lugar que lhes pertence;
Não mais hei de chorar, hei de esquecer, como numa lenta cirurgia de esquecimento, de como tirar você de mim, como numa terapia, vou esquecer, devo esquecer
Pode ser que a saudade não desapareça, creio que jamais desaparecerá, mas toda a vontade de você, toda a vontade de te ver, de te ter, todas as nossas lembraças vão desaparecer, têm de desaparecer, vão desaparecer, assim como você uma vez o fez.

O Eterno Retorno

"A décima segunda guerra mundial, como todos sabem, trouxe o colapso da civilização. Vilas, aldeias e cidades desapareceram da Terra. Todos os jardins e todas as florestas foram destruídas. E todas as obras de arte.
Homens, mulheres e crianças tornaram-se inferiores aos animais mais inferiores. Desanimados e desiludidos, os cães abandonaram os donos decaídos. Encorajados pela pesarosa condição dos antigos senhores do mundo, os coelhos caíram sobre eles.
Livros, pinturas e música desapareceram da Terra e os seres humanos ficaram sem fazer nada, olhando no vazio. Anos e anos se passaram.
Os poucos sobreviventes militares tinham esquecido o que a última guerra havia decidido.
Os rapazes e as moças apenas se olhavam indiferentemente, pois o amor abandonara a Terra.
Um dia uma jovem, que nunca tinha visto uma flor, encontrou por acaso a última que havia no mundo. Ela contou aos outros seres humanos que a última flor estava morrendo. O único que prestou atenção foi um rapaz que ela encontrou andando por ali.
Juntos, os dois alimentaram a flor e ela começou a viver novamente. Um dia uma abelha visitou a flor. E um colibri. E logo havia duas flores, e logo quatro, e logo uma porção de flores. Os jardins e as florestas cresceram novamente.
A moça começou a se interessar pela própria aparência. O rapaz descobriu que era muito agradável passar a mão na moça. E o amor renasceu para o mundo. Os seus filhos cresceram saudáveis e fortes e aprenderam a rir e brincar. Os cães retornaram do exílio.
Colocando uma pedra em cima de outra pedra, o jovem descobriu como fazer um abrigo. E imediatamente todos começaram a construir abrigos. Vilas, aldeias e cidades surgiram em toda parte. E a canção voltou para o mundo.
Surgiram trovadores e malabaristas, alfaiates e sapateiros, pintores e poetas, escultores e ferreiros, e soldados, e soldados, e soldados, e soldados, e tenentes e capitães, e corenéis e generais, e líderes!
Algumas pessoas tinham ido viver num lugar, outras em outro. Mas logo as que tinham ido viver na planíce desejavam ter ido viver na montanha. E os que tinham escolhido a montanha preferiam a planíce. Os líderes, sob a imposição de Deus, puseram fogo ao descontentamento.
E assim o mundo estava novamente em guerra. Desta vez a destruição foi tão completa, que absolutamente nada restou no mundo.
Exceto um homem, uma mulher e uma flor."

James Thurber
Amar, definitivamente, não é o suficiente.

sexta-feira, 12 de dezembro de 2008

Fera Ferida

Eu posso até ter deixado uma flor no seu jardim, mas você, em mim, deixou uma ferida.

Razones


(ignorem o vídeo, ouçam a música)

"Te echo de menos, le digo al aire, te busco, te pienso, te siento y siento que como tú no habrá nadie. Yo aquí te espero, con mi cajita de la vida, cansada, a oscuras, con miedo y este frío nadie me lo quita.


Tengo razones para buscarte, tengo necesidad de verte, de oírte, de hablarte.
Tengo razones para esperarte, porque no creo que haya en el mundo nadie más a quien ame.
Tengo razones, razones de sobra, para pedirle al viento que vuelvas aunque sea como una sombra.
Tengo razones para no quererte olvidar, porque el trocito de felicidad fuiste tú quien me lo dio a probar.

El aire huele a ti, mi casa se cae porque no estás aquí, mis sábanas, mi pelo, mi ropa te buscan a ti. Mis pies son como cartón, que voy arrastrando por cada rincón; mi cama se hace fría y gigante y en ella me pierdo yo.

Mi casa se vuelve a caer, mis flores se mueren de pena, mis lágrimas son charquitos que caen a mis pies.

Te mando besos de agua, que hagan un hueco en tu calma,
Te mando besos de agua, para que bañen tu cuerpo y tu alma,
Te mando besos de agua, pá que curen tus heridas,
Te mando besos de agua, de esos con los que tanto te reías"

Razones - Bebe

quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

All By Myself

A diferença básica entre a mulher e o homem pode ser descrita por uma imagem: é como se, ao término de uma conversa esclarecedora e conturbada por telefone, daquelas que cutucam as feridas mais profundas de cada um, o homem desligasse sem nenhum ressentimento e seguisse sua vida, fizesse o que havia de fazer. A mulher, no entanto, continuaria ao telefone, mesmo depois do silêncio do gancho, agarrada, clamando por uma esperança, pensando que aquele silêncio que penetrava seus ouvidos e o toque macio de um plástico endurecido pudesse de alguma forma substituir aquele amor que acabara de desligar.

terça-feira, 9 de dezembro de 2008

Não Me Deixam Sozinha

Vou furtando lembranças de todos eles. Anel de um, colar de outro, livro daquele que foi o mais especial. Há algum tempo, levava essas lembranças comigo. Colar no pescoço, anel no dedo, livro na bolsa. Hoje, decidi: as tenho, mas não devo guardá-las em mim.

domingo, 7 de dezembro de 2008

70ª

"Cansei

de tanto procurar
Cansei

de não achar
Cansei

de tanto encontrar
Cansei

de me perder...

Hoje eu quero somente esquecer
Quero o corpo, sem qualquer querer
Tenhos os olhos tão cansados de te ver
Na memória, no sonho e em vão...

Não sei

pra onde vou
Não sei


Se vou ou vou ficar
Pensei

não quero mais pensar
Cansei

de esperar


Agora, nem sei mais o que querer
E a noite não tarda a nascer
Descansa, coração, e bate em paz...
"


Fernanda Takai - Descansa Coração

quarta-feira, 3 de dezembro de 2008

Psicografia

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Também eu saio à revelia
e procuro uma síntese nas demoras
cato obsessões com fria têmpera e digo
do coração: não soube e digo
da palavra: não digo (não posso ainda acreditar
na vida) e demito o verso como quem acena
e vivo como quem despede a raiva de ter visto


Ana Cristina César

segunda-feira, 1 de dezembro de 2008

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NÃO, NÃO e NÃO.

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sábado, 29 de novembro de 2008

O Fogo

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Acenderam a luz e se esqueceram de apagar.

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quinta-feira, 27 de novembro de 2008

Parte Cinco - O Seu Eu

Novamente lhe vinha aquela vontade incontrolável de dormir. Um sono devastador, em meio às lagrimas que não paravam de escorrer em seu rosto.
Sem hesitar, deitou-se em sua cama, e adormeceu num instante.
Acordou no dia seguinte. Lembrava-se de tudo, mas não lembrava de seu sonho. Pensava em não ter sonhado esta noite. Na verdade, dormiu como pedra.
Inquieta, lavou o rosto e, com a mesma roupa que usou para dormir, abriu a porta de casa. E, em cima do tapede de boas-vindas, havia uma carta. Envelopada, sem remetente, com destinatário: Cecília. Cecília, e só.
Fechou a porta, sentou-se no sofá e abriu a carta, ansiosa.

"Querida Cecília,
Sei que gostou da minha resposta, mas sei também que ela lhe pareceu muito estranha. Apesar de já ter entendido, quero que você entenda. Por isto, explico.
Como você já notou, lhe causo terrível sensação quando resolvo aparecer em suas memórias. E não é à toa. Isto ocorre porque você sempre saiu ferida de todos os seus relacionamentos. Todos os homens com os quais você se envolveu fizeram questão de deixar uma marca em você, uma marca profunda. E eu, além de tudo que lhe falei, sou a junção de todas estas marcas.
Sei que outra coisa que lhe incomoda é aquele sonho que teve antes de eu te acordar. Se sou todos os homens, por que surgiram apenas dois? Ora, porque eles foram os que mais marcaram. Você sabe muito bem o que é o primeiro contato sexual na vida de uma mulher, e também o que significa o primeiro amor verdadeiro. E Lucca e Mário representaram estas coisas para você, respectivamente.
Em último, certamente te atormenta o fato de eu te desejar tanto. De eu te seguir, entrar em sua casa, te dar meu número. Beijá-la, e te olhar de um jeito que jamais olhei e hei de olhar a outra mulher.
A justificativa é simples: você marca, marcou e marcará. Todos os homens com quem você se envolve, com quem você se envolveu e com quem vai se envolver.
Por que apareci agora? Porque é o momento. As coisas não têm lógica, Cecília, ao mesmo tempo em que têm. E você sabe muito bem disto.

Um beijo carinhoso do seu eterno eu,
Eu."

Parte Quatro - Cara a Cara

- Aposto que você lembrou do Lucca em seus sonhos - Disse João.
- Como assim? Eu não entendo... Como assim? Você sabe? Não, está blefando... Não é possível! - Gritou Cecília, atordoada.
Um silêncio escuro fez-se depois de seus gritos. Olhavam-se incansavelmente: ela, tentando descobrí-lo, esclarecer suas dúvidas; ele, apreciando-a, e matando as saudades que há muito atormentavam seu peito.
- Quem é você? Como entrou em minha casa? Hein? Me responda! - Gritava.
E ele, no maior silêncio que podia fazer. Olhava-a, e era só isso que fazia, sem cessar.
Beijou-a novamente. Um misto de raiva, inquietação e paixão tomavam conta de Cecília. Ela adorava o que estava acontecendo, ao mesmo tempo em que detestava. Sentia raiva dele, ao mesmo tempo em que o amava. Amava? Ela não sabia muito bem o que sentia por ele. Aliás, quem era ele?
Afastou-se dele, levantou-se da cama e exigiu:
- Me diga, por favor, me diga agora quem você é, e o que faz na minha casa...!
- Eu sou você. E sou todas as suas memórias, e todos os seus homens. Todos os seus casos, suas mágoas. Sei de tudo, e sempre soube. Na verdade, sempre estive com você. E sempre estarei, até quando não mais estiver.
Depois disso, virou as costas e, mais calmo do que nunca, como se tivesse tirado de suas costas o peso de uma cruz, ele foi embora.
Cecília, ainda parada em seu quarto, sem reação, chorava. Porque, poesia pura que sempre foi, achara belas demais as palavras do misterioso homem. E mais misterioso que tudo é o fato de estas palavras serem aquelas que ela sempre sonhara ouvir.

Parte Três - A Invasão

Adormeceu. No sonho, surgiam memórias antigas, que quase já haviam sido apagadas de sua memória. Lembrava-se de seus tempos de colégio, dos meninos, dos professores, dos colegas. Mas duas lembraças lhe eram especiais: um professor e um aluno, músico.
O professor marcou uma época terrível de sua vida. Foi alvo de sua cafajestagem, mas, também, de inocente ela nada tinha. Fez o que pôde para atraí-lo, e conseguiu. No fundo, bem lá no fundo, ainda guardava sentimentos por ele.
O aluno, famoso pelo jeito que tocava, era uma série superior a ela. Conhecidíssimo por tocar em todos os festivais do colégio, por ganhar inúmeros prêmios e por fazer sucesso com as garotas. Muito sucesso. Era alto, moreno, forte. Os dois tinham um certo flerte, nada demais. Flerte que aos poucos foi evoluindo, até chegar ao ponto de se encontrarem às escondidas no condomínio onde ele morava. Lugar repleto pela natureza, aventuravam-se aos montes.
Tudo terminou quando ela teve de ir embora para outro país. Até hoje guardava em si um desejo às vezes incontrolável de encontrar aquele garoto. Ele a completava tão bem... Seus corpos encaixavam perfeitamente, apesar de todas as diferenças.
Entretanto, apesar de todas as memórias, ela não sabia exatamente o que significavam. O que tinham a ver com o homem, e com toda aquela sensação horrível que surgia quando pensava nele.
Sentiu um ar quente soprar em sua orelha, foi descendo, até chegar à cintura... Ela conhecia esse jeito, esse trajeto. De repente, sentiu uma mão acariciar suas costas e subir até seu rosto, aos poucos. Foi quando acordou. Na sua frente, estava aquele homem.
Estática, ela não sabia o que fazer. Sua primeira reação foi um grito, sufocado pela mão morena, que antes a acariciava. Em seguida, João retirou a mão de sua boca, e beijou-a.
Durante três longos minutos, ela sentiu experimentar um gosto já conhecido. Uma textura já conhecia.
Depois do beijo, olhou-a nos olhos. Olhos que também lhe eram conhecidos, não do mercadinho, mas já há muito tempo.
Sua cabeça estava confusa. Como o homem conseguira entrar? De onde veio? Sempre morou ali? E por que, por que diabos tudo o que fazia lhe era tão familiar...?

Parte Dois - A Interrogação

Resolveu se manifestar. Encarando-o, sorriu. Ele retribui com outro sorriso e um aceno. Em seguida, gesticulando com as mãos, chamou-a para ir à sua casa, à sua varanda. Ela não soube o que responder. De repente, como num estalo, veio-lhe ao peito uma sensação sufocadora, tornando sua respiração ofegante e enchendo seus olhos de lágrimas. Saiu correndo de sua janela e foi ao banheiro, onde encarava a si mesma no espelho enquanto jogava água em seu rosto. O sufoco cessou. Agora, depois de tudo passado, tentava procurar em si mesma o motivo do repentino furacão. Quando pensava no homem, concluiu, vinha-lhe uma senação horrível. Flashes de lembranças, muito rápidos, passavam por sua cabeça. Resolveu, então, voltar à janela.
Ele não estava mais lá. Assustada, ela só pensava em dormir, a única vontade que tinha no momento. E tinha também uma certeza: algo entre eles havia ocorrido. Não se conheciam apenas por serem vizinhos de janela...

Parte Um - Olhos Verdes

Ela acordou cedo. Ficou durante uns minutos da cama, pensando se valia a pena ou não levantar-se. O dia seria inevitavelmente mais um mar de problemas, alguns velhos e poucos outros novos. A mesma insatisfação com sua imagem no espelho, os mesmos parentes mórbidos, pessimistas e problemáticos, o mesmo ar boçal no trabalho, o mesmo transporte lotado. Pensou novamente: se levantasse, deveria ou não sair de casa?
Decidiu, pois, levantar-se. Em passos vagos e lentos dirigiu-se ao banheiro, onde ficou estática durante segundos em frente ao espelho. Pensava: Como chegei a este ponto? onde me destraí? o que me aconteceu? Resolveu parar os devaneios enquanto pegava a escova e a pasta de dente. Escovou-os com o mesmo entusiasmo de todos os dias, enquanto refletia se saía ou não de casa. Lavou o rosto, secou-o e decidiu ficar.
Foi à geladeira, abriu-a e constatou o que constatava sempre: não há nada para comer.
Vestiu qualquer roupa e foi ao mercadinho ao lado de sua casa.
Aparência debilitada, pele ressecada, olheiras enormes. Não atraía muitos olhares, mas, neste dia, um em especial lhe chamou a atenção. Um homem alto, queimado do sol, de grandes olhos verdes e enormes cabelos cacheados, que mais pareciam um black-power. Sorriu. Ela retribuiu o sorriso.
- João Marcos, prazer.
- Cecília. - Sorriu.
- Mora por aqui, Cecília? - Perguntou o homem.
- Sim, aqui do lado. - DIsse, apontando para seu prédio.
O homem, então, escreveu, num pequeno pedaço de papel, seu nome e seu número de telefone.
- Me ligue, qualquer dia desses. Também moro por aqui - Misterioso, sorriu e foi-se embora.
Acatada e com um olhar duvidoso, Cecília pagou as compras e foi para casa. Ao chegar lá, largou-as em qualquer cantou, sentou-se no sofá e, numa mistura de ânimo e desconfiança, ficou olhando durante longos minutos o papel dado pelo homem. Enquanto isso, uma música que lhe era familiar começou a tocar, em algum ligar distante. Um jazz, muito bonito, cantado por uma artista cujo nome lhe fugia no momento. Americana, talvez.
Sentou-se em frente à janela, fechou os olhos e apreciou a música, durante todo o tempo em que tocava. Quando abriu os olhos, teve uma surpresa: João, o homem do mercadinho, encontrava-se na varanda em frente à sua janela. Agora sim, ela pensava, ela sabia conhecê-lo de algum lugar. Aquele rosto, aquela silhueta lhe eram familiar. Só não se lembrava e de onde. Mas pensava já tê-lo visto naquela varanda algumas vezes...

segunda-feira, 24 de novembro de 2008

Tristeza Não Tem Fim

Acho que já escrevi textos demais sobre minha decepção infinita com os seres humanos. Qualquer que seja a relação, sempre saio marcada com uma ferida. Às vezes grande, às vezes pequena. Mas, mesmo que a maioria seja pequena, minúsculas, vão se juntando, e aos poucos formando uma ferida maior. Ferida maior que se junta com as outras, também grandes, e acaba criando uma outra ferida quase - eu disse, quase - maior do que eu.
Às vezes sucumbo, não aguento, desabo sobre mim mesma.
É terrível ter de enfrentar tanta tristeza num corpo só.

Pergunto-me quando enfim encontrarei alguém que não me machuque. Que me acrescente, e só. Que não fique guardada dentro de mim como uma ferida, como um peso. Como algo que dói, sempre que tocado.

(Sigo a vida com a cabeça erguida e trago no corpo feridas que, com o tempo, fingem parar de doer...)

domingo, 23 de novembro de 2008

Libido
















"Deixa eu tirar as jóias do teu colo
Deixa eu colar a boca no teu beijo
Deixa eu entornar o caldo do teu cálice
E passar pelo teu ombro meus dedos
-----------------------[De solidão

Deixa eu curtir a pele,
E pelo dorso entrar como um pirata corço
Neste porto proibído...
Deixa eu tirar dos lábios
A libido e coisas tais
Como fazem os animais
E os amantes, quando perdem os vestidos

Deixa eu te cobrir de plumas
E, tirando uma a uma,
Tirar todos os teus sentidos..."

Libido - Gereba & Cássia Eller

quinta-feira, 13 de novembro de 2008

Ao "homem que presta":

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Quando você vier à terra, por favor, me dê um toque, ok?
Estou esperando.

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Olhos nos Olhos

De início ela não dava tanta importância àquele que causava suspiros em todos os tipos de mulheres. Via-o somente como mais um cumprindo seu dever em meio a tantos outros.
Apesar de simpatizar com seu jeito e notar seu modo diferente de ser, custou um bom tempo para que notasse sua beleza, que para tantas outras já era óbvia.
Seu encanto começou com um olhar. Um olhar, somente. Num momento em que os dois estavam próximos, seus olhos se encontraram. E ela derreteu. Por segundos apenas, mas derreteu. Algo de diferente acontecia, ela pensou, enquanto ele fixava o olhar e ao mesmo tempo o desviava.
Dias se passaram, e seu encanto crescia. Nunca tinha se apegado a um olhar daquele modo. Só sabia pensar nos momentos de encontro, e enquanto estava com ele não fazia outra coisa se não fixar seus olhos nos dele.
Ele, com o tempo, parecia notar todo o jogo. Não era bem um jogo, mas sim uma atmosfera estranha, afrodisíaca. Ele mostrava-se envolvido, chegava perto, olhava fixamente nos olhos dela, freqüentemente. Sorria, sorria lindo, sempre que os olhares se encontravam.
Certa vez, depois de tanto encontro entre os olhares, resolveram não desviá-los e deixá-los fixos. Eis que ocorreu uma atração mútua, repentina, e os dois se aproximaram. Primeiro, enquanto os olhos continuavam fixos uns nos outros, encontraram-se as mãos. Em seguida, os braços. No instante máximo, aquele que precede o esperado há tanto tempo, há a face a face. Os segundos de silêncio. Os pensamentos a mil. E, finalmente, o encontro dos lábios. Ela há tanto tempo sonhava com isso, algo que parecia tão inalcançável. Não conseguia acreditar, mas havia acontecido: seus corpos finalmente e, por fim, se encontravam.

segunda-feira, 20 de outubro de 2008

Roda Viva


"Em casa, havia duas latas na cozinha. Uma para coisas que apodreciam fácil. Restos de comida, pó de café, papel, cascas de ovo. Os desagradáveis. Outra para vidros, latas, plásticos. Um dia, observei muito bem. A lata vazia pela manhã, enchendo gradualmente durante o dia. Completamente cheia à noite.

Depois, a lata ia para fora, o lixeiro apanhava na madrugada. Ela voltava ao lugar no dia seguinte. Vazia pela manhã, enchendo gradualmente durante o dia. Quando descobri a repetição, compreendi também o mecanismo. Repetição. Levantar, tomar café, sair, trabalhar, voltar, comer, ver tevê, deitar.

Uma roda girando sem sair do lugar. Produzindo o quê? O vazio. Moto-contínuo. Funcionaria a vida inteira, sem parar. A menos que alguém interrompesse. Se ninguém impede, as coisas continuam, eternizadas. É preciso sempre intervenção, que alguém se interponha, se transforme em obstáculo à repetição."


Não Verás País Nenhum - Ignácio de Loyola Brandão

quinta-feira, 16 de outubro de 2008

À Beira da Loucura

Depois do Big Brother Bairro, do Movimento dos Sem Pier, da propaganda das Havaianas onde "o Brasil NÃO TEM PROBLEMAS, MEU VELHO" (frase dita por um brasileiro, negro), dos vários banhos dados em Salvador por João Henrique, exceto banhos de saúde de qualidade, segurança, paz, sistema de transporte organizado e educação que se preze, da "vida é dura prá quem é mole" e da quase reeleição desse imbecil que no momento assume a prefeitura da minha - não sei até quando - amada cidade, vos digo, meus queridos: tenho medo, morro de medo do futuro do meu Brasil, temo que o país - quase não mais - verde, amarelo e azul torne-se de vez cinza. Meus queridos, por um milagre, com certeza por um milagre, não estou à beira da loucura.

terça-feira, 30 de setembro de 2008

Em suma: sumo

O que deixo para trás: uma caneta, um colar, umas paixões mal resolvidas, algumas noitadas problemáticas, uns atos autofágicos, muita solidão.
O que vou encontrar: algumas paisagens maravilhosas, montanhas, muito frio, muito calor, novas pessoas, nova família, tudo limpo, branco, zero. Novo.

domingo, 28 de setembro de 2008

O Acordar dos States

Depois de passar quase sessenta anos numa economia desenfreadamente consumista e liberal (ou neoliberal, se preferirem), os nossos amiguinhos USA sofrem um baque: a crise econômica, conseqüência da supervalorização do mercado.
A China, emergindo, dá logo os sinais de mais nova potência mundial, enquanto, na Casa Branca, Bush - desesperado, pedindo perdão a Deus - e seus discípulos tentam dar um jeito na merda que fizeram. O acordo proposto pelo ex-presidente (?) pede encarecidamente aos cidadãos estadunidenses 70 bilhões de dólares. Eis que a população do consumo vai ter de se adaptar a viver com pouco! Espera-se, então, que não só a população, mas também os banqueiros - principais responsáveis pela crise - sofram as conseqüências. Contudo, nossos queridos amiguinhos democratas exigem que se pague aos banqueiros uma determinada quantia para continuar mantendo-os ricos. Isso mesmo! A população que pague, se vire, enquanto os que desencadearam toda a confusão continuam no conforto. Há, portanto, uma rivalidade na aceitação do acordo: dar ou não dar aos banqueiros, além do fato de os republicanos defenderem a autonomia do mercado com unhas e dentes. Entretanto, se esta rivalidade não for resolvida, o acordo acabará por não ser aceito. Se não for aceito, o mundo inteiro poderá dar bye bye ao Neoliberalismo: a economia de todo o mundo será afetada. Seria, então, o colapso do capitalismo? Será esta a hora de outro modo de produção instaurar-se no mundo? Apesar de não gostar muito do capitalismo, tenho minhas dúvidas. Eu gostaria, sim, que ocorresse essa mudança brusca, mas mesmo que não ocorra, o "liberou geral" do mercado, assim como a hegemonia estadunidense de imposição consumista, podem arrumar suas malas e dar adeus a este mundo aqui - ou bye bye, se preferirem.

quinta-feira, 25 de setembro de 2008

"And no, I'm not ashamed
But the guilt will kill you
If she don't first

I'll never love you
Like her...

But we need to find the time
To just do this shit together
'Fore it gets worse
I wanna touch you,
But that just hurts..."

quarta-feira, 24 de setembro de 2008

Perdeu, playboy.

terça-feira, 23 de setembro de 2008

Cada dia que passa eu sinto mais nojo dos homens. Morram, nojentos. Por que vocês não falam na cara, hein?!

segunda-feira, 22 de setembro de 2008

O Velho Texto Batido...

For you I was a flame
Love is a losing game
Five story fire as you came
Love is a losing game

Self professed, profound
Until the tips where down...

Why do I wish I never played?
Oh, what a mess we made...
And now, the final frame:
Love is a losing game.

sábado, 20 de setembro de 2008

"Não é suficiente saber que o homem constrói mundos, mas é preciso ainda 'des-construir'. (...) Com efeito, não é possível construir uma nova civilização sem questionar os fundamentos latentes desta em que vivemos. (...) É a modernidade como um todo que precisa ser interrogada e não apenas uma ou outra de suas manifestações locais.

(...)

Cabe à filosofia - e também à poesia, convém dizer agora - recuperar a estranheza das coisas, mostrar que o cotidiano e o habitual, em sua aparente monotonia, esconde o mistério do ser.

Na mesma dimensão da filosofia e de seu modo de pensar situa-se apenas a poesia (...). O poeta fala sempre, como se o ente se exprimisse pela primeira vez. No poetar do poeta, como no pensar do filósofo, de tal sorte de instaura um mundo, que qualquer coisa, seja uma árvore, uma montanha, uma casa, o chilerar de um pássaro, perde toda monotonia e vulgaridade.
(M. Heidegger, Introdução à Metafísica, p. 66)

O homem moderno, no entanto, perdeu a dimensão do mistério: quer tudo dominar pela razão, submete a realidade inteira à bitola da funcionalidade e da utilidade, expulsa do universo o pitoresco, o imprevisto, o espontâneo, impondo-lhe a representação fictícia de um imenso e complexo mecanismo, perfeitamente controlável pela ciência e manipulável pela técnica.

Como foi possível chegar aonde chegamos? Como este modelo da realidade pôde emergir? Que estranho destino levou o homem moderno a submeter-se à tirania da razão, esquecendo-se que no mais fundo de si mesmo é desejo, paixão e amor?"


Fazer Filosofia, 3ª Edição, pps. 37 & 38 - Olinto A. Pegoraro, Ricardo Jardim Andrade, Maria Célia M. de Moraes, Vera Portocarrero, Leda Miranda Hühne, Eliane M. Portugal, Dirce Eleonora Solis, Sydney S. F. Solis, Regina Lopes Van Balen


quinta-feira, 11 de setembro de 2008

"O seu amor é uma mentira que a minha vaidade quer"

quinta-feira, 4 de setembro de 2008

"Minha beleza
Não é efêmera
Como o que eu vejo
Em bancas por aí

Minha natureza
É mais que estampa
É um belo samba
Que ainda está por vir"


Bobagem - CéU

segunda-feira, 1 de setembro de 2008

WTF is it 'bout men?!

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Understand: once he was a family man

So, surely, I would never ever go through it first hand...
Emulate all the shit my mother hated,
I can't help but demonstrate my Freudian fate
My alibi for taking your guy...
History repeats itself, it fails to die
And animal aggression is my downfall...
I don't care 'bout what you got, I wanted all

It's bricked up in my head, it's shoved under my bed
And I question myself again: what is it 'bout men?
My destructive side has grown a mile wide...
And I question myself again: what is it 'bout men?!

I'm nurturing, I just wanna do my thing...
And I'll take the wrong man as naturally as I sing
And I'll save my tears for uncovering my fears
For behavioral patters that stick over the years...

'Cos it's bricked up in my head, it's shoved under my bed
And I question myself again: what is it 'bout men?
Now my destructive side has grown a mile wide,
and I question myself again: what is it 'bout men?

What is it 'bout men?!

What Is It About Men - Amy Winehouse

(now you think that I will be somethin' on the side, but you have to understand that I NEED A MAN WHO CAN TAKE MY HAND, yes, I do... I don't know what this is, but ya got got me good... I don't know what you do, if you really do something conscient, but, anyway, you do it well. I'm under your spell...)

domingo, 31 de agosto de 2008

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(At least I'm not goin' back to black)

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sábado, 30 de agosto de 2008

Too Hard To Ignore

"Attract me
'til it hurts to concentrate
Distract me
Stops me doing work I hate

And just to show him how it feels
I walk past his desk in heels
One leg resting on a chair,
From the side he pulls my hair

Although I've been here before
He's just too hard to ignore
Masculine you spin a spell
I think you'd (you wouldn't) wear me well
Where's my moral parallel?

It takes me
Half an hour to write a verse
He makes me
Imagine it from bad to worse

My weakness for the other sex
Every time his shoulders flex
Way the shirt hangs off his back
My train of thought spins right off track


Although I've been here before
He's just too hard to ignore
Masculine he spins a spell
I think he'd (he wouldn't)wear me well
So where's my moral parallel?"

Amy, Amy, Amy - Amy Winehouse

What a mess we made...

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You (and I) though I didn't love you, when I did
Can't believe you played me out like that...

What kind of fuckery are you?!

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sexta-feira, 29 de agosto de 2008

Salve Huxley!

"e se alguma vez, por algum acaso infeliz, ocorrer de um modo ou de outro qualquer coisa de desagradável, bem, então há o soma, que permite uma fuga da realidade. e sempre há o soma para acalmar a cólera, para nos reconciliar com os inimigos, para nos tornar pacientes e nos ajudar a suportar os dissabores. no passado, não era possível alcançar essas coisas senão com grande esforço e depois de anos de penoso treinamento moral. hoje, tomam-se 2 ou 3 comprimidos de meio grama e pronto. todos podem ser virtuosos agora. pode-se carregar consigo mesmo, num frasco, pelo menos a metade da própria moralidade. o cristianismo sem lágrimas, eis o que é o soma."



Eu quero soma.

¿Tu crees que te compensa?

Pues no te compensa. ¡No te compensa!

quinta-feira, 28 de agosto de 2008

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Um ano são trezentos e sessenta e cinco dias.

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terça-feira, 26 de agosto de 2008

Autofágicos

Creio que o maior problema das relações humanas consiste nos próprios seres humanos. Sem saber, e, ao mesmo tempo, sabendo, nos relacionamos com os seres mais perigosos que existem neste mundo: nós mesmos, a humanidade.

Óbvio que não se deve simplificar nem reduzir. Mas creio - na verdade, tenho certeza - que o problema do problema (olha a redundância...) humano inicia-se aí nessa complexidade. Nós não somos seres de confiança... Não mesmo.
Não adianta. Por mais tortas que sejam as pessoas, elas nunca abrirão mão de criticar e julgar. E punir, principalmente. Por mais humanos e errados (ou errantes) que nós todos sejamos, nunca - ou quase nunca - conseguimos ter empatia o suficiente para conseguir nos pôr, de fato, no lugar do outro. A tolerância, na maioria das vezes, é mínima; o julgamento, máximo.
Quem sabe o que é "ter" e "perder" alguém?

sexta-feira, 22 de agosto de 2008

Estou cansada de perder pessoas.

quarta-feira, 20 de agosto de 2008

Beggin' For Mercy













I love you, but I've got to stay true
My moral's got me on my knees,
I'm beggin: please, stop playin' games!

I don't know what this is, 'cos ya got me good,
Just like you knew you would...
I don't know what you do, but you do it well
I'm under your spell!

You got me beggin' you for mercy,
Why won't you release me?!
You got me beggin' you for mercy
I said you'd better release me...

Now you think that I will be something on the side
But you got to understand that I need a man
Who can take my hand, yes, I do!

I don't know what this is, 'cos ya got me good,
Just like you knew you would
I don't know what you do, but you do it well
I'm under your spell...

Duffy - Mercy

segunda-feira, 18 de agosto de 2008

Homens: melhor não tê-los.
Mas se não os temos,
Como sabê-los?

sábado, 16 de agosto de 2008

Foto por Sara

"Carnaval, desengano
Deixei a dor em casa me esperando
E brinquei, e gritei e fui vestido de Rei,
Quarta-feira
sempre desce o pano...

Carnaval, desengano
Essa morena me deixou sonhando
Mão na mão, pé no chão
E hoje,
nem lembra, não
Quarta-feira sempre desce o pano

Era uma canção, só cordão e uma vontade
De tomar a mão de cada irmão pela cidade...

No carnaval, esperança
Que gente longe viva na lembrança
Que gente triste possa entrar na dança
Que gente grande saiba ser criança..."

Sonho de Um Carnaval - Chico Buarque de Hollanda
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"Ninguém neste mundo presta, muito menos eu."

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quarta-feira, 13 de agosto de 2008

Pós-Madonna



Não, não estou revelando meu lado fútil. Não, não sou fã de Britney Spears. Sim, eu ouço Britney Spears; algum problema?
Na verdade, não vim aqui impor gostos nem discutí-los. O motivo pelo qual pus um vídeo da ex-american-dream aqui é a vontade de fazer uma simples porém interessante análise desse ambiente de revolução feminina pós-Madonna.

"They say I'm crazy; I really don't care. They say I'm nasty, but I don't give a damn; gettin' boys is how I live. (...) I don't need permition to make my own decisions: that's my prerogative."

Diante dessa postura feminista (e, ao mesmo tempo, anti-feminista) de pôr a mulher como dona de seu nariz, que usufrui dos prazeres carnais concebidos pelos homens, me vem à cabeça a idéia de girl-power revolucionária revelada pela Madonna da década de 80. Em sua apresentação de estréia, no VMA, a diva pop saiu de um bolo gigante, vestida de noiva, fazendo poses e caras sensuais e cantando seu primeiro single, Like A Virgin. Foi, sem dúvida, um choque à mulher "dona de casa" da época; Madonna trouxe uma mulher sexualmente poderosa, com a capacidade de inferiorizar a figura masculina neste aspecto. Utilizou da melhor ferramenta sexual que nós mulheres temos: o corpo. Deixou-se - parcialmente - de lado a mulher submissa, e tirou-se o homem da sua postura de "macho", invertendo-se a situação: não mais os homens usufruem do apenas corpo da mulher, mas sim o contrário.

Não acho algo admirável a postura da Britney, mas admiro sim as suas raizes. Em suma, não admiro a futilidade que a nova careca carrega em toda a sua obra, mas a admiro como filha de uma quebra aos valores morais de uma época opressora quanto à expressão feminina. Acredito no girl-power e o vejo mais forte nos dias de hoje, apesar deste ser muito confundido com a futilidade. A libertação da mulher quanto figura sexual está presente tanto nesse vídeo que aqui posto quanto no decote e na saia curta que, hoje em dia, nós mulheres temos a liberdade de usar.

segunda-feira, 11 de agosto de 2008

"Educar para um Outro Mundo Possível"

­Folheando uma revista cujo tema abordado muito me agrada, FILOSOFIA, encontrei logo nas primeiras páginas uma entrevista com uma figura impotantíssima: MOACIR GADOTTI, professor titular da Faculdade de Educação da USP desde 1991 e dirigente Instituto Paulo Freire. Apresentando uma proposta que não me era desconhecida, mas que, mesmo assim, me surpreendeu, o educador afirma que o povo tem a capacidade de mudar o mundo, sem necessariamente atingir o PODER: "Essa não é a missão de uns poucos heróis, de uns poucos militantes. É a tarefa de todas as pessoas. A bola está conosco."
Como a entrevista é grande e eu não tenho tempo, disponibilidade física nem cara-de-pau pra fazer um copy-past por aqui, vou citar alguns dizeres que me chamaram atenção e me despertaram esperança.

Quanto à mudança através do povo, daqueles que não possuem nenhum título de poder, Moacir afirma: "Os partidos não são os únicos canais de participação política. Há outras formas de fazer política, portanto, de operar mudanças. Não se pode utilizar a mesma lógica e os mesmos métodos utilizados pelo capitalismo para tentar superá-lo. Compartilho com a idéia de John Holloway, autor do livro Como Mudar o Mundo sem Tomar o Poder, de que o mundo não será transformado pelos poderosos que criam pessoas despossuidas de poder, mas pelas pessoas comuns como nós."

Fazendo-se uma análise rápida dos valores contemporâneos, não se tem um resultado muito otimista: egoísmo, individualismo, ganância, pessimismo, inconseqüência. Logo, se afirma-se que a mudança se dará através da pessoas, fazer-se-á necessária também uma mudança de valores:
"Não se pode mudar o mundo sem mudar as pessoas. (...) São processos interligados. Mudar o mundo depende de todos nós: é preciso que cada um tome consciência e se organize. (...) Os fóruns colocaram o povo, a multidão, como grande sujeito. Só o povo organizado pode fazer história. Os movimentos sociais contemporâneos não querem ficar na platéia, na arquibancada. A sociedade civil não pode ficar assistindo; tem que ser protagonista desse 'outro mundo possível'."

Responsabilidade social e solidariedade abordadas pelo educador: "O mercado existiu bem antes do capitalismo e, possivelmente, continuará existindo depois dele. (...) O mercado não é um ser imutável. O mercado pode ser regido por uma outra lógica. Pode, sim, existir uma economia solidária. (...) Ele [o mercado] foi inventado pelos homens e tudo o que foi inventado por eles, por eles pode ser re-inventado."
"Um país que precisa de um Estatuto da Criança para respeitar a criança tem alguma coisa errada no seu processo civilizatório".
"A solidariedade nada tem a ver com piedade. Não se trata de dar uma esmola para alguém para aliviar nossa consciência. (...) A solidariedade implica não apenas em sentir o outro, mas compartilhar nossa vida, nossos sonhos, com o outro. Por isso a solidariedade precisa ser 'emancipatória'".

Basta apenas sair às ruas para dar-se conta da enorme diversidade comportada pelo mundo. Sendo assim, não faz-se possível a definição de mundo por apenas uma teoria, por um dogma: "Não há uma teoria única que possa explicar a complexidade do mundo atual e orientar a vida de uma comunidade tão diversa. Sempre existe mais de um ponto de vista que responde à mesma questão. É cegueira ideológica e sectarismo enxergar apenas uma teoria. (...) O partido único e o monolitismo ideológico conduzem necessariamente ao fracasso político. A diversidade é a característica fundamental da humanidade. Por isso, não pode haver um único modo de produzir e de reproduzir nossa existência no planeta. (...) Diante da diversidade humana abre-se a possibilidade da diversidade de mundos possíveis".

Respondendo à última pergunta O que é educar para um outro mundo possível?, Gadotti finaliza: "Os paradigmas clássicos estão levando o planeta ao esgotamento de seus recursos naturais. A crise atual é uma crise de paradigmas civilizatórios. Educar para outros mundos possíveis supõe um novo paradigma, um paradigma holístico".

domingo, 10 de agosto de 2008

"Não sei se o mundo é bom,
Mas ele ficou melhor
Quando você chegou
E perguntou: - Tem lugar pra mim?"

Nando Reis

sexta-feira, 8 de agosto de 2008

Terceiro

Chegaram apressados, com a boca seca e as mãos trêmulas de ansiedade e medo. Deixaram o carro tão rápido quanto se deixa um campo de batalha, subiram com passos corridos a escada e, depois de pouco procurar, encontraram o número que lhes foi dado: 123. Agarraram-se como animais famintos, expremendo-se contra a porta e sentindo seus sexos colados um no outro. Enquanto perdia-se nas curvas da menina, ele abriu desastrosamente a porta, levando-a pela cintura até a parede mais próxima. Fechou a porta com um braço e, com o outro, envolveu-lhe com mão forte a cintura, descendo os lábios pelas curvas daquele pescoço macio, com cheiro de menina mulher, enquanto ela arrancava-lhe os botões da blusa. Empurrou-a ainda vestida na cama e, ao encaixar seu corpo sobre o dela, tirou-lhe pelas costas a blusa branca de tecido macio que encobria as tão preciosas curvas daquela cintura tão jovem. Desceu sua boca aos arrebitados e belos seios como um filho faminto, enquanto a expressão da mulher deixava claro as pontadas de prazer que sentia. Ela se virou. Deslizou seu corpo sobre o dele até chegar na altura do cinto que segurava sua calça. Com mãos delicadas e precisas, desabotoou-lhe o cinto e a calça, tirando-a com gestos igualmente lentos. Olhando em seus olhos, agora incalculavelmente mais provocativos, bebeu o leite que há tanto tempo desejava e, deixando-lhe fazer o mesmo, chegou ao momento de gozo que, havia muito tempo, esperava. Sentiu o sexo dele chegando mais perto do seu. Gelou por uma fração de segundo, mas acabou por ceder à temperatura ambiente de seus desejos e somente sentiu um estalo rápido, mas doloroso. Não lhe escorreu nenhum sangue, somente foi invadida por um vai-e-vem feroz acompanhando da respiração ofegante do homem que, naquele momento, era seu. A partir disso, os dois perderam-se em si mesmos: eram dois humanos completamente distintos que, graças a um sentimento que lhes era comum, acabaram por tornar-se um só.

Segundo

Pensava ele que ela pouco ou nada notava do seu apetite sexual tão voraz. Pensava, iludido, que ela não lhe interpretava os olhares e não sabia ou conseguia captar a sexualidade que ele excessivamente esbanjava. Apesar disso, pensava, também, que o olhar dela poderia significar algo, mas não sabia ao certo. A única coisa de que tinha certeza, entretanto, era de seu desejo: ele a queria tão selvagemente que era necessário controlar-se. Mas, mesmo que sem querer, ela o provocava: o seu olhar expressivo e inocente, a sua postura de menina mulher, suas curvas precisas e a sua pele morena deixavam-lhe a sexualidade à flor da pele. Ele, tão frio e arrogante em sua forma natural, acabava por assustar-se com o turbilhão de sentimentos causados por um ser que lhe era tão diferente, tornando-o suscetível ao seu lado impulsivo e a todas as provocações que lhe fossem atiradas.

Primeiro

Enquanto ela imaginava-se nas mais diversas aventuras, não lhe fugia à cabeça aquele mesmo homem que a vinha atormentando há tanto tempo. Desde a primeira vez que o viu, não conseguiu tirar da memória aquele olhar tão provocativo, que atacava-a como que com sete pedras, sem nem pedir-lhe licença. Invadia sua privacidade e seus desejos mais íntimos aquela voz tão bem modulada que chegava certas vezes ao ponto mais alto de sensualidade que se pode alcançar. O modo como fazia-se presente, sempre exalando sexualidade, a deixava fora de si. O homem parecia ser a luxúria encarnada; de modo algum parava de atormentá-la em seus devaneios. Ela cansava-se, expulsava-o de suas idéias, evitava vê-lo, mas nenhuma das tentativas era certeira: o conjunto da voz sensual e às vezes tão bela, do olhar que a devorava e da sexualidade quase viva a artomentava como se aquele homem se fizesse presente em todas as suas travessuras e em seus momentos mais íntimos.

Ao Desconcerto do Mundo

Os bons vi sempre passar
No Mundo graves tormentos;
E pera mais me espantar,
Os maus vi sempre nadar
Em mar de contentamentos.
Cuidando alcançar assim
O bem tão mal ordenado,
Fui mau, mas fui castigado.
Assim que, só para mim,
Anda o Mundo concertado.


Luís de Camões

quarta-feira, 6 de agosto de 2008

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"Eu sou mais forte do que eu."

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terça-feira, 5 de agosto de 2008

Carta de Graças

E eu, como humilde homem pobre e nobre que sou, agradeço-te pela devolução de todos os sentimentos que me haviam fugido de vista. Agradeço-te, sobretudo, por ter despertado novamente em meu ser, já quase à beira da morte de tão frio e cético quanto ao mundo e aos seres humanos, a vontade, a esperança, o brilho nos olhos ao ver as coisas mais simples que antes tinham perdido toda a sua beleza, que acabaram por tornar-se coisas insignificantes, sem graça alguma, como uma parede cinza de concreto, sem vida.
Graças às tuas visitas e aos olhos nos olhos que me permites trocar contigo, tornei-me novamente o ser humano que sempre fui, voltei à minha essência. Voltei a rir das coisas mais bobas e a achar o pôr-do-sol uma das coisas mais belas que existem neste mundo. Voltei a apreciar o dia por simplesmente ser mais um, a sentir, com prazer, o vento batendo no rosto e a magnificar - permita-me a invenção - a capacidade que me foi concedida de observar pessoas caminhando e coincidindo suas vidas nas ruas e, o melhor, poder achar isso uma das coisas mais belas que um ser humano pode observar.
O ponto negativo de tudo isso, minha cara, de ter voltado a mim mesmo e de estar me permitindo outra vez deixar-me levar por outro ser humano que não seja eu mesmo, é a saudade: querida, esta tem se tornado insuportável. E mesmo quando a mato, não a mato de fato. Sinto saudades tuas até quando tenho-te em vista. É um desejo maior, como já dito por outra pessoa que agora me foge o nome: algo como uma vontade imensurável e incontrolável de consumir-te por completo, em todos os sentidos carnais ou não carnais que a palavra pode conotar.

quarta-feira, 30 de julho de 2008

Mulheres de Hollanda

­­"Tuas mulheres, essas mulheres de dentro de você... São lindas."
Caetano Veloso

segunda-feira, 28 de julho de 2008

­
"You changed my life. You changed my life and I've known you four days.This is the beginning of something really big..."
­

domingo, 27 de julho de 2008

sábado, 26 de julho de 2008

Incerto

"Sob o som de uma peça de piano preparado de John Cage, o último plano do filme flagra uma criança (Nina Cavalcanti) caminhando pela relva até vir para a câmera e dizer o texto de Heidegger (que Caetano dizia no show “Velô”): “Igualmente incerto permanece se a civilização mundial será em breve subitamente destruída ou se se cristalizará em uma longa duração que não resida em algo permanente, mas que se instale, muito ao contrário, em uma mudança contínua em que o novo é substituído pelo mais novo”. Após dizê-lo, ela sorri inocente e marota para alguém fora do quadro e, num gracioso gesto de contrafeita conformada, dá de ombros."

sexta-feira, 25 de julho de 2008

Através do Espelho

Marília pensava na efemeridade das coisas, lembrava do cheiro dele que já havia se misturado com o seu, pegava quase que compulsivamente na lembrança que levava consigo, como se para ela aquilo fosse ele, como se matasse tudo o que ela vinha sentindo e, o mais importante, como se fosse um remédio pr'aquelas horas que não passavam, Lembrava daquela última vez como se fosse mesmo a última, mesmo sabendo que não era, e mais uma vez lhe vinha o efêmero à cabeça: o mundo é efêmero e a realidade é efêmera, Nós somos efêmeros,
Marília: era isto mesmo o que queria? Ou desejava o efêmero?

Decidiu olhar-se no espelho por uns instantes, tentando decifrar a si própria, Se questionava ao mesmo tempo em que desprendia os cabelos e penteava-os com aquela escova que, para ela, equivalia a todo um banho, olhava nos próprios olhos e achava-os incrivelmente parecidos com os dele,
Em meio a devaneios a angústia não lhe saía da cabeça, não sabia o que queria, Ou sabia?

Parou de escovar-se, Guardou na sua caixa branca todo aquele emaranhado confuso de efemeridades e cheiros - só não a sua lembrança cotidiana - , apagou as luzes, deitando sua cabeça no travesseiro sempre tão macio e descansando as pernas como se tudo aquilo fosse eterno, ligou o rádio para ouvir aquelas mesmas músicas de sempre que lhe faziam dormir como anjo, como se esperasse mesmo que aquele momento tão dela e tão dele fossem só deles, como se os dois fossem um só, Na verdade ela o queria ali naquele momento, mas só tinha o cotidiano, os cheiros confundidos e a memória já quase desconsertada de tanto se lembrar daquelas velhas e desgastadas cenas
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And the truth is:

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Não só era saudade, como ainda é.

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Nua e Crua

"Vem, meu menino vadio...
Vem, sem mentir pra você
Vem, mas vem sem fantasia
Que da noite pro dia
Você não vai crescer...

Vem, por favor não evites
Meu amor, meus convites,
Minha dor, meus apelos...
Vou te envolver nos cabelos
Vem perder-te em meus braços,
Pelo amor de Deus!

Vem que eu te quero fraco,
Vem que eu te quero tolo,
Vem que eu te quero todo meu..."

Chico, o Buarque - Sem Fantasia

quinta-feira, 24 de julho de 2008

Tanto Mar



"...E foi tanta felicidade
Que toda cidade se iluminou
E foram tantos beijos loucos,
Tantos gritos roucos
Como não se ouvia mais...

Que o mundo compreendeu
E o dia amanheceu
Em paz..."


Valsinha - Chico Buarque




Foto: Henri Cartier Bresson

quarta-feira, 23 de julho de 2008

Ausência (ou As Cores)


Enquanto sentia-se aquecida pela luz do sol, ela não sabia direito distingüir aquele sentimento que lhe acelerava e expremia o coração. Parecia uma mescla de saudade e carência; não só saudade, mas uma vontade de apertar, de abraçar, de ver, de consumir. De contemplar, enfim.
Não conseguia tirar da memória aqueles olhos grandes, tão bonitos, nem o jeito doce e forte de abraçar, nem o cheiro que parecia ter ficado impregnado em suas narinas.
Ela sentia falta, isso era fato. Só faltava descobrir, ainda, se aquilo que sentia era mesmo saudade.

Modelo da foto: Lorena Bastos

terça-feira, 22 de julho de 2008

Talvez ele tenha se perdido dentro de si próprio. Por isso, tanto tempo, mostrou-se estranho, confuso, frio. Talvez, quem sabe, ele tenha voltado. Só há um porém: é tarde demais.

segunda-feira, 21 de julho de 2008

­

Hora de assumir a estrutura; explodir, deixa para mais tarde.

­

As Cores


Então ela olhou pela janela do ônibus, viu um dia azul de sol e falou para si mesma: "o mundo não parece assim tão triste". Pensou em todas as cores que se confundiam, em todo o brilho que quase agredia seus olhos e naquele sol que insistia em iluminá-la.

Foto por Márcia

Between The Bars



E eu me encanto tão intensa e rapidamente que chega me amedronto. Fraquejo, desconfio. Mas sou eu: tento me trancar e fugir de tudo o que me vem à tona, e, eu mesma, ao dizer 'não', me abro, novamente.

A velha nova menina parece ter voltado.

Insensatez

Há poucas coisas que o comovem ultimamente. Nem as mãos entrelaçadas, nem os olhos nos olhos, nem as palavras que sofrem repousadamente nos pedaços borrados de papel. Nem as músicas, por mais tristes ou alegres que sejam, conseguem arrancar-lhe lágrimas ou sorrisos. O onirismo, sempre tão constante em seu cotidiano, agora não se faz tão presente. Sempre que há um início, a sua consciência, fria e cética, defende-se, expulsando qualquer tipo de sonho, de ilusão, de contato com o que fica hospedado no seu inconsciente e só se manifesta na hora do sono.

Apesar do ofuscamento nessa sensibilidade que - tenho certeza - o habita, ele há de voltar a ser o mesmo homem que se encantava com o meu olhar e com minhas cartas, com todas as flores que eu insistia em lhe entregar e com todo o amor que, durante muito tempo, deixei guardado dentro de mim.

You Know I'm No Good

­Era o desejo, a vontade, o tesão. O egoísmo fortificado pela ânsia, os lábios compartidos, os olhos devassos. O cheiro do sexo, do vinho, do cigarro. A casa repleta de calcinhas jogadas no chão, camisinhas transbordando no lixo do banheiro. Baratas, moscas e formigas transitando pelos pratos sujos na mesa. A chuva lá fora, a janela fechada, a televisão ligada e ela estendida em sua cama, pálida feito papel. Cigarro numa mão, pulsos cortados. Toda a sua vida suja deixada como herança, e seu espírito rondando a sua própria existência.
­

Recomeço

"Ela e seu castigo, ela e seu penar
Ela e sua janela, querendo
Com tanto velho amigo
O seu amor, num bar,
Só pode estar bebendo...

Mas outro moreno
Joga um novo aceno
E uma jura fingida...
E ela vai, talvez,
Viver d'uma vez
A vida..."

Chico Buarque de Holanda - Ela e Sua Janela