quarta-feira, 30 de julho de 2008

Mulheres de Hollanda

­­"Tuas mulheres, essas mulheres de dentro de você... São lindas."
Caetano Veloso

segunda-feira, 28 de julho de 2008

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"You changed my life. You changed my life and I've known you four days.This is the beginning of something really big..."
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domingo, 27 de julho de 2008

sábado, 26 de julho de 2008

Incerto

"Sob o som de uma peça de piano preparado de John Cage, o último plano do filme flagra uma criança (Nina Cavalcanti) caminhando pela relva até vir para a câmera e dizer o texto de Heidegger (que Caetano dizia no show “Velô”): “Igualmente incerto permanece se a civilização mundial será em breve subitamente destruída ou se se cristalizará em uma longa duração que não resida em algo permanente, mas que se instale, muito ao contrário, em uma mudança contínua em que o novo é substituído pelo mais novo”. Após dizê-lo, ela sorri inocente e marota para alguém fora do quadro e, num gracioso gesto de contrafeita conformada, dá de ombros."

sexta-feira, 25 de julho de 2008

Através do Espelho

Marília pensava na efemeridade das coisas, lembrava do cheiro dele que já havia se misturado com o seu, pegava quase que compulsivamente na lembrança que levava consigo, como se para ela aquilo fosse ele, como se matasse tudo o que ela vinha sentindo e, o mais importante, como se fosse um remédio pr'aquelas horas que não passavam, Lembrava daquela última vez como se fosse mesmo a última, mesmo sabendo que não era, e mais uma vez lhe vinha o efêmero à cabeça: o mundo é efêmero e a realidade é efêmera, Nós somos efêmeros,
Marília: era isto mesmo o que queria? Ou desejava o efêmero?

Decidiu olhar-se no espelho por uns instantes, tentando decifrar a si própria, Se questionava ao mesmo tempo em que desprendia os cabelos e penteava-os com aquela escova que, para ela, equivalia a todo um banho, olhava nos próprios olhos e achava-os incrivelmente parecidos com os dele,
Em meio a devaneios a angústia não lhe saía da cabeça, não sabia o que queria, Ou sabia?

Parou de escovar-se, Guardou na sua caixa branca todo aquele emaranhado confuso de efemeridades e cheiros - só não a sua lembrança cotidiana - , apagou as luzes, deitando sua cabeça no travesseiro sempre tão macio e descansando as pernas como se tudo aquilo fosse eterno, ligou o rádio para ouvir aquelas mesmas músicas de sempre que lhe faziam dormir como anjo, como se esperasse mesmo que aquele momento tão dela e tão dele fossem só deles, como se os dois fossem um só, Na verdade ela o queria ali naquele momento, mas só tinha o cotidiano, os cheiros confundidos e a memória já quase desconsertada de tanto se lembrar daquelas velhas e desgastadas cenas
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And the truth is:

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Não só era saudade, como ainda é.

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Nua e Crua

"Vem, meu menino vadio...
Vem, sem mentir pra você
Vem, mas vem sem fantasia
Que da noite pro dia
Você não vai crescer...

Vem, por favor não evites
Meu amor, meus convites,
Minha dor, meus apelos...
Vou te envolver nos cabelos
Vem perder-te em meus braços,
Pelo amor de Deus!

Vem que eu te quero fraco,
Vem que eu te quero tolo,
Vem que eu te quero todo meu..."

Chico, o Buarque - Sem Fantasia

quinta-feira, 24 de julho de 2008

Tanto Mar



"...E foi tanta felicidade
Que toda cidade se iluminou
E foram tantos beijos loucos,
Tantos gritos roucos
Como não se ouvia mais...

Que o mundo compreendeu
E o dia amanheceu
Em paz..."


Valsinha - Chico Buarque




Foto: Henri Cartier Bresson

quarta-feira, 23 de julho de 2008

Ausência (ou As Cores)


Enquanto sentia-se aquecida pela luz do sol, ela não sabia direito distingüir aquele sentimento que lhe acelerava e expremia o coração. Parecia uma mescla de saudade e carência; não só saudade, mas uma vontade de apertar, de abraçar, de ver, de consumir. De contemplar, enfim.
Não conseguia tirar da memória aqueles olhos grandes, tão bonitos, nem o jeito doce e forte de abraçar, nem o cheiro que parecia ter ficado impregnado em suas narinas.
Ela sentia falta, isso era fato. Só faltava descobrir, ainda, se aquilo que sentia era mesmo saudade.

Modelo da foto: Lorena Bastos

terça-feira, 22 de julho de 2008

Talvez ele tenha se perdido dentro de si próprio. Por isso, tanto tempo, mostrou-se estranho, confuso, frio. Talvez, quem sabe, ele tenha voltado. Só há um porém: é tarde demais.

segunda-feira, 21 de julho de 2008

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Hora de assumir a estrutura; explodir, deixa para mais tarde.

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As Cores


Então ela olhou pela janela do ônibus, viu um dia azul de sol e falou para si mesma: "o mundo não parece assim tão triste". Pensou em todas as cores que se confundiam, em todo o brilho que quase agredia seus olhos e naquele sol que insistia em iluminá-la.

Foto por Márcia

Between The Bars



E eu me encanto tão intensa e rapidamente que chega me amedronto. Fraquejo, desconfio. Mas sou eu: tento me trancar e fugir de tudo o que me vem à tona, e, eu mesma, ao dizer 'não', me abro, novamente.

A velha nova menina parece ter voltado.

Insensatez

Há poucas coisas que o comovem ultimamente. Nem as mãos entrelaçadas, nem os olhos nos olhos, nem as palavras que sofrem repousadamente nos pedaços borrados de papel. Nem as músicas, por mais tristes ou alegres que sejam, conseguem arrancar-lhe lágrimas ou sorrisos. O onirismo, sempre tão constante em seu cotidiano, agora não se faz tão presente. Sempre que há um início, a sua consciência, fria e cética, defende-se, expulsando qualquer tipo de sonho, de ilusão, de contato com o que fica hospedado no seu inconsciente e só se manifesta na hora do sono.

Apesar do ofuscamento nessa sensibilidade que - tenho certeza - o habita, ele há de voltar a ser o mesmo homem que se encantava com o meu olhar e com minhas cartas, com todas as flores que eu insistia em lhe entregar e com todo o amor que, durante muito tempo, deixei guardado dentro de mim.

You Know I'm No Good

­Era o desejo, a vontade, o tesão. O egoísmo fortificado pela ânsia, os lábios compartidos, os olhos devassos. O cheiro do sexo, do vinho, do cigarro. A casa repleta de calcinhas jogadas no chão, camisinhas transbordando no lixo do banheiro. Baratas, moscas e formigas transitando pelos pratos sujos na mesa. A chuva lá fora, a janela fechada, a televisão ligada e ela estendida em sua cama, pálida feito papel. Cigarro numa mão, pulsos cortados. Toda a sua vida suja deixada como herança, e seu espírito rondando a sua própria existência.
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Recomeço

"Ela e seu castigo, ela e seu penar
Ela e sua janela, querendo
Com tanto velho amigo
O seu amor, num bar,
Só pode estar bebendo...

Mas outro moreno
Joga um novo aceno
E uma jura fingida...
E ela vai, talvez,
Viver d'uma vez
A vida..."

Chico Buarque de Holanda - Ela e Sua Janela