terça-feira, 31 de março de 2009

quarta-feira, 25 de março de 2009

Esquerda no Brasil

Bom, o que é ser de esquerda no Brasil? É gostar de Marx? É usar camisa do Che Guevara? É pichar nos muros da cidade "ABAIXO A DITADURA"? É achar Obama gatinho? Não, não.
Ao tentarmos definir o que é a esquerda brasileira, entramos numa questão muito complexa e ao mesmo tempo muito simples. Muito complexa porque tem muita gente que acha que ser de esquerda é obrigatoriamente ser comunista. Não. Ser comunista é defender um modelo de sociedade ideal, na qual haveria uma convivência harmoniosa entre todas as pessoas, igualdade absoluta. Ser de esquerda não é sonhar com a sociedade perfeita; é enxergar e tentar mudar os defeitos da nossa sociedade.

Exemplifiquemos com o que nos está próximo: atual crise do sistema neoliberal. Como se sabe muito bem, quando eclode uma crise é porque algo não estava indo bem, é porque faz-se necessário consertar alguma coisa. Pois vejamos, "crise do NEOLIBERALISMO". Se quem está em crise é o sistema neoliberal, quem conseqüentemente precisa ser modificado, ou exterminado? O Neoliberalismo, ora pois. E o que é o Neoliberalismo? Em palavras simples, a farra do mercado, a mão invisível do Estado. Então, se esse sistema que visa apenas a alimentação do mercado e desconsidera problemas sociais entra em crise, o que se conclui? Que é necessária uma interferência maior - ou existente, digamos assim - do Estado. Mesmo que se tenha criado o Estado intervencionista pós-29, faz-se necessária agora a sua reelaboração.
Conluindo, camaradas, ser de esquerda é isso. Como disse Emir Sader, a característica da esquerda brasileira contemporânea é ir de encontro aos paradigmas neoliberais. E eu assino embaixo: enquanto Olavo de Carvalho & cia sonham com a vida infinita desse sistema predatório, eu, o Emir Sader, a crise de 2008 e a (verdadeira) esquerda do Brasil gritamos: Neoliberalismo, BYE BYE!

terça-feira, 24 de março de 2009

"Matar é como cortar as unhas dos pés. A princípio, a mera ideia dá-te preguiça mas depois vês que foi muito mais rápido do que imaginavas.
E achas que passará muito tempo antes de voltares a cortá-las; só que quando menos esperas, elas já cresceram de novo."


Almodóvar

quinta-feira, 19 de março de 2009

Tibetan Freedom

Hoje vi um filme sobre o qual já tinha ouvido muito, "Sete Anos no Tibet". Apesar de já ter estudado o Imperialismo e conseqüentemente a dominação chinesa sob o país budista, não tinha me envolvido emocionalmente nem tomado conhecimento tão profundo da cultura tibetana. De uma sensibilidade imensa, o filme, que é baseado na autobiografia da personagem principal, Heinrich Harrer, mostra o quão rica e lúcida é a cultura teocêntrica do Tibet.
Marxista que sou, sempre critiquei muito a religião: já fui atéia, inclusive. Hoje em dia não sei definir esse meu campo, apesar de me questionar cotidianamente sobre a existência ou não de um deus.
Retomando o filme, além deste mostrar, como já disse, a imensa maturidade do povo Tibetano - que, por sinal, tem como uma de suas maiores virtudes a paz -, "Sete Anos no Tibet" me fez refletir sobre esse entrosamento entre culturas distintas, principalmente o ocidente com o oriente. Tornou-se perceptível no filme a diferença principal entre estes dois pólos mundiais: a preocupação com o espírito, com o ser. O ocidente, tomado pela ganância e pela supervalorização das capacidades humanas, esqueceu de olhar para o interior do homem. O oriente, por sua vez, valoriza o ser e o espírito acima de tudo: pouco importam os feitos grandiosos que se pode realizar, é necessário saber tornar grandioso mesmo o menor dos feitos.
No momento em que Heirinch chega ao Tibet e começa a cultivar uma amizade com o 14º Dalai Lama, Tenzin Gyatso, ocorre uma rica troca de culturas, experiências, conhecimento. Tenzin mostra saber muito bem conciliar a utilidade da cultura ocidental com a espiritualidade da cultura oriental. E, ao ensinar o ocidente ao jovem amigo, Heinrich sobretudo aprende com ele.
A história termina infelizmente com a ocupação da China comunista, pós IIª Guerra, no Tibet. A partir daí, inicia-se um período de genocídio e etnocídio vigente até os dias atuais. Deste modo, a própria ação imperialista da China ressalta mais uma vez uma das adversidades não só entre o oriente e ocidente, mas entre toda a humanidade: por ser budista, regido por um Estado Teocêntrico, o Tibet sofre as conseqüências da ganância cega, atéia da China comunista: não se aturam diferenças. Como certa vez o disse Otto em uma de suas músicas, eu repito: Free Tibet, para mim, é pessoal.

Sobre as doenças pós-carnaval & a ditadura da felicidade

Vivemos numa província: fato. Província que, apesar de esquecida não só pelo resto do país como também por si mesma na maior parte do ano, nos 6 dias que consistem o Carvaval ela se torna simplesmente "o estado mais amado do Brasil". Bonito, não? Chegam os turistas, hospedam-se, banham-se em nossas praias, comem nossos acarajés, pulam frenética e ininterruptamente nosso (?) Carnaval, sujam nossas ruas, consomem nossa energia, nossa água, nossa internet, nosso telefone... E vão embora. Felizes da vida. Eis que eles vão, mas não se vão por completo. Deixam lembranças: doenças. Vírus. Bactérias. E nós, sortudos, que moramos nesse império da alegria, contraímos seus "presentes".
Mas não, não se enganem: a culpa não é do turista. Culpa, não. Melhor dizendo: responsabilidade. Pois então, a responsabilidade não é deles. É dos "amigos" que administram este estado mais amado do Brasil. Então, cadê a capacidade de suportar tanta gente, hein? Cadê a nossa infra-estrutura? Cadê o planejamento não-realizado da cidade? E por fim, onde está a estrutura que intrinsecamente pede saúde pública de qualidade, responsável por toda a nossa população afetada? Simplesmente é quase inexistente.
Das epidemias, portanto, surge um problema mais grave: a morte. Morte não por sina, não por acidente: morte por falha administrativa. Morte porque, desde os tempos coloniais, impera-se neste Brasil, e, por razões óbvias, particularmente na Bahia, uma ditadura burra. Uma ditadura que prega a felicidade. A felicidade falsa: a felicidade que aliena, que ignora, que mata, que exclui.

Devagar

_____________________________________Foto: Stefan Rohner

Acordava, espreguiçava-se, caminhava, banhava-se devagar.
Secava-se, vestia-se, escovava-se, maquiava-se devagar.
Comia, pensava, movia-se, sentava-se devagar.

Observava-o devagar.
O tempo passava devagar.
O mundo parecia devagar.


Sentia devagar, amava-o devagar.
Entregava-se, aos poucos, devagar.

Sobre o medo de pensar

É engraçado como há dias em que se para e se pensa. O cotidiano que hoje se apresenta em nossas vidas acabou por aniquilar a própria experiência existencial: não se vive mais, mata-se o tempo. Por isto mesmo, os dias em que se para e se pensa são extremamente especiais. A constatação do mundo à nossa volta não é algo que se revela todos os dias. O costume faz com que esqueçamos que estamos no mundo, e não pior que isso, que esqueçamos o quão fantástico e complexo este mundo é.
Os carros, os estudos, o trabalho, os filhos, as contas a pagar, os serviços a prestar, os horários a cumprir: são estas tarefas que nos aniquilam a capacidade de reflexão. Os próprios padrões imagéticos fazem com que o conteúdo, ou seja, o que se pensa seja quase que totalmente deletado. Digo quase que totalmente porque ainda se salvam os valores - ou a moral -, sobre os quais ainda existe um pouco de reflexão.
Ainda assim, viver virou comum: não se percebe o quão incrível é estar em um mundo em constante movimento, que há muito tempo está em constante movimento; não se para mais para pensar o quão é fantástico saber da História e estar fazendo parte da História. Além de que, apesar de todas as adversidades da contemporaneidade, vivemos numa época de novidades sem precedentes. Antagonismos nunca foram tão visíveis: o mundo nunca esteve tão unido e, ao mesmo tempo, nunca tão separado. As desigualdades e as semelhanças aumentam proporcionalmente.
Falando-se de história mundial, encontramo-nos mais uma vez num período de decisão. É agora que se faz necessário pegar tudo que há de bom nessa contemporaneidade e potencializar. Mas, uma coisa se sabe muito bem: sem o poder da reflexão e do pensar, absolutamente nada poderá ser feito.

quarta-feira, 11 de março de 2009

Sofia e o amor

A casa encontrava-se vazia desde então. Sofia, tão obscura quanto tudo o que estava vivendo, abriu a porta e encontrou o silêncio. Eis o que ela precisava: o silêncio. Nada mais.
Pôs sobre a mesa as compras que fez, jogou sua bolsa em um canto qualquer da sala. Deitou-se no sofá e pôde garantir que não sentira sensação tão confortável há pelo menos um ano. Isto a fez lembrar do que vivera há um ano atrás.
Realmente, há um ano atrás Sofia estava satisfeita. Simplesmente satisfeita. O que é fantástico, já que a insatisfação é o eterno sentimento humano.
Agora ela estava sem suas partes. Não mais se reconhecia em seu próprio corpo e sentia a alma repicada. Sofia estava vazia.
Pensou que talvez fosse aquele homem, cujos danos causados a seu psicológico e emocional superam a maior das crueldades. Concluiu por fim que fora mesmo aquele homem, e infelizmente, por concluir, percebera também que ele ainda a habitava. O que era bom: ela não estava vazia. O que era ruim: ela necessitava, definitivamente, tirá-lo de dentro de si.

sexta-feira, 6 de março de 2009

bobagem pouca

Nada no plano da razão poderá explicar o que houve. O que foi eu, o que foi você, o que fomos nós. Mesmo que, praticamente, não tenhamos sido, fomos. Fomos um erro, eu sei; um erro emocional e carente. Um erro necessitado, dependente. Fizemos um do outro fetiches, objetos de desejo. Projetamos um no outro o que imaginávamos ser exatamente aquilo que queríamos. E no final, estávamos certos: felizmente ou infelizmente, tudo não passou de um sonho.
(alguma coisa acontece no meu coração)

Fixação

Vendo aqueles cabelos negros, enrolados;
Aqueles braços fortes, marcados;
Aquele anel ao dedo: enlaçado.

Ela se perguntava: hei de me perder outra vez?

Help!

Eu não sei mais escrever.

Sociologia X Senso Comum

A observação e o estudo do mundo em que vivemos pode ser feita de maneiras diversas. Há pessoas, por exemplo, que baseiam suas opiniões sobre a sociedade que lhes abriga em dados cientificamente confirmados. No entanto, existem pessoas que optam por enxergar o mundo em que vivem através de seus próprios olhos, criando assim conceitos particulares e uma definição de mundo própria, sem quaisquer outras fontes de confirmação senão o próprio indivíduo.

O que muitos chamam de "achismo" ou de "ciência particular" é formalmente chamado de Senso Comum. A sociologia, conhecimento e estudo científico da sociedade formulado através de pesquisas históricas e pesquisas de campo, é antagônica ao senso comum. Isto ocorre no momento em que as teorias sociológicas são baseadas em pesquisas científicas, ou seja, em que são confirmadas através de todo um processo de observação e resgate de informações históricas.

Tomemos como exemplo uma situação social: numa cena de assalto,em que o assaltante é negro encontram-se dois observadores. Um deles, baseando-se apenas no senso comum, afirma: "O negro é assaltante porque tem preguiça de trabalhar". Contrapondo-se ao senso comum, ou seja, baseando sua afirmação em dados históricos e sociológicos, o segundo observador rebate: "Na verdade, o assaltante é negro devido às conseqüências de um processo de exploração chamado escravidão".

Como se pôde observar, a necessidade de confirmação de hipóteses mostra-se essencialmente presente na sociologia ou em qualquer outro estudo científico. Eis aí o que difere a sociologia e a ciência em geral do senso comum: a necessidade de uma base sólida, obtida através de pesquisas, para comprovar teorias.