Marília: era isto mesmo o que queria? Ou desejava o efêmero?
Decidiu olhar-se no espelho por uns instantes, tentando decifrar a si própria, Se questionava ao mesmo tempo em que desprendia os cabelos e penteava-os com aquela escova que, para ela, equivalia a todo um banho, olhava nos próprios olhos e achava-os incrivelmente parecidos com os dele,
Em meio a devaneios a angústia não lhe saía da cabeça, não sabia o que queria, Ou sabia?
Parou de escovar-se, Guardou na sua caixa branca todo aquele emaranhado confuso de efemeridades e cheiros - só não a sua lembrança cotidiana - , apagou as luzes, deitando sua cabeça no travesseiro sempre tão macio e descansando as pernas como se tudo aquilo fosse eterno, ligou o rádio para ouvir aquelas mesmas músicas de sempre que lhe faziam dormir como anjo, como se esperasse mesmo que aquele momento tão dela e tão dele fossem só deles, como se os dois fossem um só, Na verdade ela o queria ali naquele momento, mas só tinha o cotidiano, os cheiros confundidos e a memória já quase desconsertada de tanto se lembrar daquelas velhas e desgastadas cenas
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Um comentário:
difícil elogiar com palavras outras palavras.. muito bonito, mesmo!
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