terça-feira, 10 de novembro de 2009

All The Lost Children

..............................................................Foto: http://i.olhares.com

Andava sob o sol forte das dez da manhã tentando acompanhar os passos largos de seu pai, que parecia a cada segundo mais distante. Apesar da dor, seus olhos amendoados brilhavam. Todos os seus anseios pareciam, momentaneamente, afogados por um pedaço de pão com manteiga e um pequeno copo de suco.
Tentava pôr a mão junto à de seu pai e tentar explicar-lhe a dor nos pés, pois não conseguia mais caminhar descalço sobre o chão quente. Mas a reação daquele homem, tão grande e de pernas tão largas, era sempre a mesma: continuar andando. E o menino, pequeno, sentia-se limitado por não saber falar. A saída que encontrava era continuar comendo, para que pelo menos por mais alguns minutos seus olhos pudessem brilhar.
Entretido pela fome, esqueceu-se da ardência nos pés e pôs-se a seguir o ritmo de seu pai, mesmo que, para ele, aquilo fosse impossível.
Com seus cabelos grandes borrando sua visão, as mãos ocupadas e os pés a arrastar no chão, permitiu-se fazer parte daquela metrópole insana e daquele calor que o tomava por dentro, mesmo sem ter consciência alguma.
À medida que caminhava, foi sumindo, magro, pela avenida, tornando-se cada vez mais pequeno e chegando, em um certo momento, a tornar-se um menino invisível.

3 comentários:

Ginha disse...

Adorei o texto, ficou tipo "vidas secas" urbanizado. beijos minha nin, você escreve lindo.

Danilo Augusto disse...

Sou novo por aqui e estou achando bem difícil achar bons textos nessa "blogsfera".
Você é uma feliz exceção.

Sarah K disse...

Lu,
ficou lindo demais ... deu prá ver a cena, fiquei emocionada.
Vc vai longe filha ... escreve tão bem!!!

Te amo demais!
beijos1000