quinta-feira, 27 de novembro de 2008

Parte Quatro - Cara a Cara

- Aposto que você lembrou do Lucca em seus sonhos - Disse João.
- Como assim? Eu não entendo... Como assim? Você sabe? Não, está blefando... Não é possível! - Gritou Cecília, atordoada.
Um silêncio escuro fez-se depois de seus gritos. Olhavam-se incansavelmente: ela, tentando descobrí-lo, esclarecer suas dúvidas; ele, apreciando-a, e matando as saudades que há muito atormentavam seu peito.
- Quem é você? Como entrou em minha casa? Hein? Me responda! - Gritava.
E ele, no maior silêncio que podia fazer. Olhava-a, e era só isso que fazia, sem cessar.
Beijou-a novamente. Um misto de raiva, inquietação e paixão tomavam conta de Cecília. Ela adorava o que estava acontecendo, ao mesmo tempo em que detestava. Sentia raiva dele, ao mesmo tempo em que o amava. Amava? Ela não sabia muito bem o que sentia por ele. Aliás, quem era ele?
Afastou-se dele, levantou-se da cama e exigiu:
- Me diga, por favor, me diga agora quem você é, e o que faz na minha casa...!
- Eu sou você. E sou todas as suas memórias, e todos os seus homens. Todos os seus casos, suas mágoas. Sei de tudo, e sempre soube. Na verdade, sempre estive com você. E sempre estarei, até quando não mais estiver.
Depois disso, virou as costas e, mais calmo do que nunca, como se tivesse tirado de suas costas o peso de uma cruz, ele foi embora.
Cecília, ainda parada em seu quarto, sem reação, chorava. Porque, poesia pura que sempre foi, achara belas demais as palavras do misterioso homem. E mais misterioso que tudo é o fato de estas palavras serem aquelas que ela sempre sonhara ouvir.

Nenhum comentário: