quinta-feira, 27 de novembro de 2008

Parte Três - A Invasão

Adormeceu. No sonho, surgiam memórias antigas, que quase já haviam sido apagadas de sua memória. Lembrava-se de seus tempos de colégio, dos meninos, dos professores, dos colegas. Mas duas lembraças lhe eram especiais: um professor e um aluno, músico.
O professor marcou uma época terrível de sua vida. Foi alvo de sua cafajestagem, mas, também, de inocente ela nada tinha. Fez o que pôde para atraí-lo, e conseguiu. No fundo, bem lá no fundo, ainda guardava sentimentos por ele.
O aluno, famoso pelo jeito que tocava, era uma série superior a ela. Conhecidíssimo por tocar em todos os festivais do colégio, por ganhar inúmeros prêmios e por fazer sucesso com as garotas. Muito sucesso. Era alto, moreno, forte. Os dois tinham um certo flerte, nada demais. Flerte que aos poucos foi evoluindo, até chegar ao ponto de se encontrarem às escondidas no condomínio onde ele morava. Lugar repleto pela natureza, aventuravam-se aos montes.
Tudo terminou quando ela teve de ir embora para outro país. Até hoje guardava em si um desejo às vezes incontrolável de encontrar aquele garoto. Ele a completava tão bem... Seus corpos encaixavam perfeitamente, apesar de todas as diferenças.
Entretanto, apesar de todas as memórias, ela não sabia exatamente o que significavam. O que tinham a ver com o homem, e com toda aquela sensação horrível que surgia quando pensava nele.
Sentiu um ar quente soprar em sua orelha, foi descendo, até chegar à cintura... Ela conhecia esse jeito, esse trajeto. De repente, sentiu uma mão acariciar suas costas e subir até seu rosto, aos poucos. Foi quando acordou. Na sua frente, estava aquele homem.
Estática, ela não sabia o que fazer. Sua primeira reação foi um grito, sufocado pela mão morena, que antes a acariciava. Em seguida, João retirou a mão de sua boca, e beijou-a.
Durante três longos minutos, ela sentiu experimentar um gosto já conhecido. Uma textura já conhecia.
Depois do beijo, olhou-a nos olhos. Olhos que também lhe eram conhecidos, não do mercadinho, mas já há muito tempo.
Sua cabeça estava confusa. Como o homem conseguira entrar? De onde veio? Sempre morou ali? E por que, por que diabos tudo o que fazia lhe era tão familiar...?

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